Lady GaGa e o Oscar 2016: Quando o machismo está onde nem percebemos
29.2.16 |
| Fonte: Internet |
Oi oi pessoal! Tudo beleza? Esse post de hoje teve origem logo após a premiação de melhor canção no Oscar 2016, que aconteceu ontem (28/02). Como o blog é o meu espaço para compartilhar minha opinião com vocês, resolvi desabafar um pouquinho. Se você está aqui, é porque curte meus textos, então #vemk e vamos conversar.
Eu não tenho nenhuma capacitação técnica para avaliar nada de música e cinema. Sou apenas curiosa e apreciadora, mas não posso dizer com propriedade o que está tecnicamente bem executado. Mas posso dizer o que me toca ou não, o que acho bom ou não. E, em minha humilde opinião (e na da maioria das pessoas no Twitter) a canção de Sam Smith - "Writing's on the wall" ("007 contra Spectre") - não deveria ter recebido o troféu. Lembro que fui ver o filme no cinema e a abertura, que para mim sempre é um show à parte nos filmes de 007, foi arrastada, chata e torturante! Eu não via a hora de acabar, pois achei a música muito tediosa. Quando saí do cinema, ela já havia se apagado completamente da minha mente, não lembrava nem a melodia!
Se fosse só a minha opinião, ok, problema é meu, eu sei. Mas eis que Lady Gaga estava concorrendo com "Til it happens to you" (do documentário "The hunting ground", que aborda o tema de estupro nos campus das faculdades dos Estados Unidos). Não é parcialidade de fã, porque não sou fã dela. Mas essa música... Sério, me arrepiei dos pés à cabeça com a apresentação dela e os arrepios não passaram por uns três minutos! A superioridade da canção era evidente até para os mais leigos. Minha torcida estava toda nela e até o vice-presidente dos EUA foi à cerimônia falar da importância em se abordar o assunto.
Mas quando a premiação saiu, o Oscar foi para a inexpressiva (e chata) música de 007! E aí eu comecei a refletir: se a música não era a melhor, porque raios ganhou? Então comecei a pensar no que as duas canções e os dois filmes representavam e quem estava julgando. De um lado, uma canção feita para um filme de um dos personagens mais antigos, estereotipados e representante de tudo o que uma sociedade altamente machista venerava: um galã, viril, desapegado de mulheres (usa e abusa delas como se estivessem ali apenas para seu prazer), que possui carros, armas, etc.
Lá do outro lado, uma música que era um verdadeiro grito de socorro, de basta, de "precisamos que nos ouçam e que discutam isso!" e que foi fundo para um documentário sobre um assunto que os machistas não estão preparados nem interessados em discutir: o abuso e a violência sexual contra as mulheres, que já começa antes mesmo que elas e seus agressores sejam adultos, na universidade. Conseguem perceber tudo o que esse documentário e essa canção representam?
E quem estava julgando qual delas deveria vencer? Em sua maioria, homens, brancos, de idade avançada e de mente conservadora (AKA possíveis machistas). Se pararmos para pensar em quem estava avaliando, fica bem evidente que GaGa dificilmente levaria o Oscar para casa, apesar de muitíssimo merecido. Então, fica muito evidente que quem ganhou a estatueta não foi a canção de Sam Smith, mas o personagem por trás dela. Parece que basta ser a música de um filme do 007 para merecer a premiação (não que Adele não tenha merecido anteriormente, pois a canção dela era muito superior a essa nova).
Dar o Oscar à GaGa seria renegar o valor que o esteriótipo que é James Bond conquistou para a sociedade machista. Seria assumir publicamente que as mulheres que passaram por abuso sexual têm direito a uma voz. E, para isso, acho que a Academia ainda não está preparada e evoluída o suficiente. Quem sabe, com as mudanças prometidas (de incluírem mais mulheres, negro e latinos) no corpo da Academia, isso mude com o tempo? Só nos resta torcer...
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6 comentários
Eu não acompanhei o oscar até o fim, mas fiquei muito chateada quando vi que a Gaga não ganhou. E pra mim foi bem dolorido ver o clipe dessa música, porque é bem pesado mesmo ;/
ResponderExcluirEnfim, concordo plenamento contigo. O meio cinematográfico já é altamente misógino: com poucos filmes com protagonistas mulheres, com poucos papeis femininos relevantes que não tenham relação com homens, pouca interação entre mulheres que não seja com diálogos a respeito de homens, e etc. A premiação do Oscar não seria diferente. Dentro desse meio, senti que o debate de mulheres/negros no cinema esse ano esteve mais forte depois do discurso da Patricia Arquette no ano passado... Mas as principais categorias ainda são dominadas por homens e vencidas por eles, e a maioria dos premios nunca tiveram indicação de mulheres. Fiquei feliz que Mad Max tenha ganhado tantos prêmios, considerando que a Furiosa tem bastante destaque no filme e boa parte da produção do filme é feita por mulheres. Mad Max ganhou prêmio de melhor montagem e melhor direção de arte, e tanto montagem/edição do filme quanto a direção de arte foram chefiadas por uma mulheres (direção de arte foi em conjunto com um cara, e ele quem fez o discurso na premiação, mas enfim).
Outra coisa que me deixou chateada é o filme Garota Dinamarquesa (que eu ainda não vi apesar de todas as criticas positivas porque fiquei com um pé atrás). O filme é sobre a história da primeira mulher transgênero a fazer uma cirurgia de resignação sexual. Aí ao invés de chamar uma atriz trans pra atuar, eles vão lá e colocam um homem cis, ou seja, pessoas trans não ganham visibilidade nem quando é pra representar elas mesmas! Sem falar que os comentaristas do Oscar (na Globo e etc) em geral falavam a respeito do filme com total ignorancia, dizendo que o filme era sobre "o primeiro homem a fazer cirurgia de mudança de sexo". E não! Não é um homem, é uma mulher trans.
Enfim, a coisa tá menos pior se tratando de Oscar, mas ainda tem muito que evoluir, sabe? Do mesmo jeito que a sociedade.
beijo
Nossa Ketryn é bem por aí mesmo. Entendo a visibilidade que o ator ganhou no último ano após ganhar o Oscar 2015 e o fato de quererem, talvez, aproveitar isso para divulgar mais o filme. Mas realmente seria muito melhor se colocassem uma atriz trans para fazer. Me vem a mente logo a que faz Sense8, que também está com alguma visibilidade devido à série. Mas sei que seria possível colocar outras opções também. Não sei se eles quiseram colocar um homem para poder mostrar o "antes" (eu ainda não vi o filme também, mas to querendo ver), mas sei que tem uma cena dele de corpo inteiro na frente do espelho e tentando se imaginar após a cirurgia, escondendo o órgão e tal. Enfim, só nos resta esperar que melhore, e muito, o cenário atual. Beijos!
Excluirescrevi resignação sexual e é redesignação... to em doida haiuhai
ExcluirEu pensei que fosse questão do "antes" também, mas daria de usar dublê, ou sei la, mostrar a cena de outro jeito... existe computação grafica também ne? :/
acho que foi má vontade ou ignorancia de quem produziu o filme mesmo.
:(
Pode ter sido sim. Realmente, recursos havia. Também pode ter sido um pouco desse lance de pegar carona na notoriedade do ator... Enfim, tem muito o que melhorar mesmo! ;-)
ExcluirEu concordo com cada palavrinha que você escreveu. Eu fiquei pensando exatamente isso na hora da premiação, mas não sou tão boa pra expor meu pensamentos quanto vc e fiquei na minha. Mas ler isso e saber que não fui a única a pensar assim me deixa melhor.Eu até mandei teu texto pro meu ex, que é um ulta cinéfilo, ler e ele disse que é muito triste perceber que essas coisas acontecem e tal, que ele nao tinha olhado por esse lado ainda (e ela tb nao concordou com a premiação do sam smith, ele tb queria e apostava na gaga). Enfim, obrigada pelo texto.
ResponderExcluirbjss
http://artenonome.blogspot.com.br/
Poxa Karol, que bom que você gostou e se sentiu representada pelo meu texto. Realmente esse lado machista da Academia é algo que me incomoda muito e que eu gostaria muito que mudasse. Vamos torcer para que eles abram a mente né? Bjs!
ExcluirObrigada por comentar! Todos os comentários passam por moderação antes de ficarem disponíveis. Mas em breve ele será lido e respondido. Beijos!